Sabe-se que a indústria alimentícia e farmacêutica estão entre aqueles setores que mais crescem ao longo dos anos.
Além disso, setores como estes que faturam de bilhões a trilhões ao ano, não almejam somente uma crescente produção de produtos relacionados, mas também uma evolução significativa nos parâmetros de qualidade.
Desta forma, é previsível que as árduas metas anuais sejam batidas através de um esforço que envolva investimentos tecnológicos e expansão territorial, salientando a importância de destinar recursos a processos chave para o sucesso fabril.
Contudo, a tecnologia não basta para que os processos funcionem corretamente e estejam conformes com o requerido.
É preciso, também, ter um conhecimento técnico em engenharia e áreas correlatas para que detalhes e variáveis importantes sejam corretamente considerados, a fim de garantir um processo preciso e eficaz.
Neste contexto, a refrigeração industrial ganha destaque não só por ser um processo chave e comum às duas indústrias mencionadas, mas também pelo modo em que é utilizada para câmaras de armazenamento.
Portanto, este texto é para você que procura considerações reais de projeto para garantir a qualidade e eficiência operacional em câmaras de armazenamento, de modo que esta atenda aos critérios de qualidade de cada produto que há de ser armazenado.
Contents
Câmaras de armazenamento e refrigeração
Quando se coloca em um mesmo contexto a refrigeração e câmaras de armazenamento, espera-se uma estrutura presente em processos industriais e que é capaz de prolongar a vida útil e preservar qualidade de produtos.
Essas câmaras de armazenamento, presentes em setores alimentício, farmacêutico, químico e hospitalar, podem ser divididas em dois tipos,as quais são câmaras de refrigeração (ou resfriamento) e câmaras de congelamento.
Geralmente, essas duas possibilidades de projeto são reconhecidas através das seguintes características:
- As câmaras de refrigeração são características de níveis de temperatura próximos de 0 °C e são utilizadas para o armazenamento de frutas, vegetais, laticínios e outros alimentos frescos;
- As câmaras de congelamento, por sua vez, operam em temperaturas menores do que 0 °C, podendo atingir de -18 °C até -25 °C, além de serem utilizadas para o armazenamento de carnes, peixes e outros produtos que devem ser congelados.
Em geral, essas câmaras industriais podem ser projetadas para atender às necessidades específicas de cada tipo de produto, com temperaturas e tamanhos variáveis, além de integração com sistemas de logística e distribuição.
Considerações para o projeto de armazenamento com refrigeração industrial
A partir de agora, você tem acesso ao passo a passo teórico utilizado para a confecção de câmaras de armazenamento que utilizam o processo de refrigeração para preservar produtos diversos.
Embora não faremos um projeto real para exemplificar o que deve ser feito, você ainda assim terá acesso ao passo a passo e às referências utilizadas para a construção da câmara.
Então, sem mais demora, vamos ao assunto principal deste texto.
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Condições externas
As condições externas são importantes porque consideram os seguintes dados para a cidade em específico:
- Temperatura máxima;
- Temperatura de bulbo seco (TBS);
- Temperatura de bulbo úmido (TBU);
- Latitude;
- Altitude;
- Longitude;
- Umidade relativa.
Esses dados, tão importantes, não precisam ser caçados na internet, para que você não encontre informações distintas e acabe ficando confuso.
Portanto, seja assertivo e acesse esses dados na NBR 16401.
2.Condições internas de projeto
As condições internas de projeto dizem respeito às suas necessidades internas à câmara.
Essas condições consideram:
- Temperatura de armazenamento;
- Temperatura de congelamento;
- Umidade relativa do ar;
- Calor de respiração;
- Calor específico resfriado;
- Calor específico congelado.
A tabela contendo esses dados está presente na ASHRAE (traduzida como Sociedade Americana Aquecimento, Refrigeração e Ar-Condicionado para Engenharia).
3.Condições de armazenamento
As condições de armazenamento devem considerar:
- Peso de cada caixa (Kg);
- Dimensões das caixas que hão de armazenar o produto;
- Dimensão dos paletes em que as caixas serão postas e empilhadas;
A EMBRAPA determina que a altura máxima de empilhamento não ultrapasse 2,20 m. Desta forma, deve-se calcular quantas caixas devem ser empilhadas por palete, visto a dimensão do palete e a dimensão das caixas.
4.Câmara de resfriamento
A câmara de resfriamento deve considerar a sua capacidade, em toneladas, do produto que será armazenado. Além disso, é interessante especificar quantos paletes e quantas caixas devem ser postas no interior deste ambiente.
Considere, então:
- Área total do galpão;
- Área total do piso, parede e telhado;
- Volume do galpão;
- Número de empilhadeiras utilizadas;
- Número de pessoas na câmara;
- Tempo de permanência de pessoas na câmara.
5.Isolamento e transferência de calor através das paredes
Sabe-se que a parede é formada por duas camadas de materiais diferentes. Comumente, uma camada é de alvenaria e a outra pode ser de outro material de baixa condução térmica, como o poliestireno.
A camada de alvenaria pode ser brevemente estimada, como 400mm, por exemplo, de modo que o valor final encontrado na equação seja a espessura de poliestireno.
Enfim, a espessura dessa camada isolante pode ser calculada através da seguinte relação:
Em que:
li – Espessura do isolante;
li – Condutividade térmica do isolante;
T1 – Temperatura do ar exterior a câmara, temperatura ambiente;
T2 – Temperatura do ar no interior da câmara;
ΔT′ – Fator de correção;
Q̇⁄A- Fluxo de calor por unidade de área da parede.
αext – Coeficiente de convecção externo
αcam – Coeficiente de convecção interno
Além disso, fixa-se o valor do fluxo de calor por unidade de área da parede, já que segundo literaturas, 8 kcal/h.m2 é considerado ideal.
Ademais, é importante considerar que ao pintar a parede das câmaras, pode diminuir a espessura do isolante, mas deve ser aplicado um fator de correção no cálculo da espessura.
6.Difusão de vapor
Muito se fala sobre o impacto do vapor condensado congelar e da importância de módulos de degelo.
Este mesmo problema pode ocorrer no isolamento da câmara e este pode ser afetado.
Por isso, analisar se a pressão de vapor é menor que a pressão de saturação nos pontos da parede da câmara, nos paineis isolantes e nas paredes da alvenaria, é extremamente importante.
- Para isso, encontre a resistência térmica do isolante e da parede:
RT = 1/∝ext + Lalv/Kalv+ Liso/Kiso+ v/∝int
∝ext – Coeficiente de convecção do ar externo a câmara;
∝int – Coeficiente de convecção do ar no interior da câmara;
kalv – Condutividade térmica da alvenaria;
kiso – Condutividade térmica do isolante;
Lalv – Espessura da alvenaria;
Liso – Espessura do isolante.
- Calcule o fluxo de calor real;
- Encontre a pressão de saturação;
Por fim, encontre a resistência à difusão de calor, considerando a permeabilidade da alvenaria (δ) e a do isolante (que é a razão da permeabilidade do ar e do isolante para o material selecionado).
RV = Lalv/δalv +Liso/δiso
7.Carga térmica
7.1. Por produtos
A carga térmica do produto em unidade de calor por dia é dada pela equação:
Q̇prod=Gmx[cp1x(Tent–T1) + hcg+cp2x(T1–T2)]+GTxQresp
Onde:
Gm – Movimentação diária do produto kg/dia;
cp1 – Calor específico do produto antes do congelamento kJ/kg. oC;
Tent – Temperatura de entrada do produto antes de entrar na câmara oC;
T1 – Temperatura de congelamento do produto oC;
hcg – Calor latente de congelamento kJ/kg;
cp2- Calor específico do produto após congelamento kcal/kg. °C;
T2 – Temperatura final do produto congelado °C;
GT – Quantidade de produto na câmara kg;
Qresp – Calor liberado pela respiração do produto kJ/kg. Dia
Especifique se haverá ou não congelamento e a porcentagem de congelamento por dia.
7.2. Por transmissão de calor
Para este cálculo, a área da superfície da câmara (Acam) em contato com o ambiente externo é importante, e a transmissão de callor em kcal/dia pode ser calculada através da equação:
Q̇trm=QAx Acam x 24
7.3. Infiltração de ar externo
É fato que ocorre a infiltração de ar externo quente devido às portas e outras aberturas.
Para isso, considere a equação:
Qinf=Vcam x FTA x ∆H
Onde, pela carga piezométrica;
∆H′ = hext-hcamvext
7.4. Por iluminação
Para este cálculo, considere a equação:
Qilum=3 x Acamx 0,86
7.5. Por pessoas
A carga devido À presença de pessoas no interior da câmara em kcal/dia, vem pela equação:
Qpes=(272+6 x Tcam) x 0,86 x n x τ
7.6. Motor da empilhadeira
Qmotor=Qtabelado x Wmotor x τ
7.7. Caixas e paletes
7.8. Carga térmica parcial
Considera todas soma de todas cargas térmicas calculadas anteriormente, sem considerar a carga térmica devido aos ventiladores dos evaporadores.
7.9. Ventiladores
Considere a potência do ventilador do evaporador. Por exemplo, de 1 CV a cada 1 TR.
7.10. Carga total estimada
Soma da carga parcial com a carga dos ventiladores
8. Parâmetro do ciclo
8.1. Temperatura de evaporação
Selecione o evaporador considerando a temperatura e a umidade relativa do produto. Para isso, encontre a temperatura final do produto e a sua umidade relativa.
Já que a Tea é a temperatura de entrada do ar (igual à temperatura da câmara), tem-se a temperatura de evaporação.
8.2. Temperatura de condensação
A temperatura de entrada e a temperatura de condensação podem ser encontradas com a equação abaixo. Para isso, considere que o compressor se considera uma temperatura de 10 a 15 °C entre a temperatura de entrada e a de condensação.
Além disso, o modo de resfriamento do condensador faz total diferença na temperatura de entrada (será igual a de bulbo seco caso o condensador for resfriado a ar).
8.3. Sub-resfriamento
Para garantir que na válvula de expansão passe somente fluido no estado líquido é necessário que haja o um sub-resfriamento do fluido.
Considere que este valor esteja entre 3 e 5 °C
8.4. Superaquecimento
Para garantir que entre apenas vapor no compressor é necessário que haja o superaquecimento do fluido.
É recomendável que este valor esteja entre 35 e 45 °C.
8.5. Condições de projeto
Utilize a carta psicrométrica para encontrar valores importantes para o ciclo de refrigeração, os quais são: entropias, entalpias, volume específico, pressão no evaporador e condensador, entre outros.
9. Seleção de equipamentos
Selecione os equipamentos (evaporador, compressor, condensador e válvula de expansão) de acordo com as suas respectivas capacidades de operar sobre a carga térmica.
Tenha em mãos os pontos de operação que dizem respeito a:
- Razão de compressão para diferentes temperaturas de evaporação e condensação;
- Volumes específicos na aspiração do compressor para diferentes temperaturas de evaporação e condensação;
- Eficiência isentrópica para diferentes temperaturas de evaporação e condensação;
- Vazão mássica para diferentes temperaturas de evaporação e condensação;
- Diferença de entalpia do condensador e do compressor para diferentes temperaturas de evaporação e condensação;
- Calor no condensador e evaporador;
- Trabalho no compressor;
- Capacidade frigorífica em função da diferença de entalpia, para diferentes temperaturas de evaporação e condensação.
Conclusão
Desta forma, é possível realizar um projeto robusto de câmara de armazenamento utilizando a refrigeração industrial.
Nota-se que os passos a serem seguidos são diversos e podem ser complexos, mas nota-se então, através deste fato, o quão complexo pode ser um projeto de refrigeração para garantir a qualidade e a capacidade produtiva na indústria.
Por fim, projetos de câmaras como essas se baseiam no fluxo de processo abaixo.
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